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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Desmitificando o Famoso

Atualmente, duas razões justificam o comportamento de pessoas comuns buscarem a fama para se tornarem celebridades: a necessidade de ser amado e um caminho mais fácil de ganhar dinheiro. Além disto, elas demonstram que precsisam ser veneradas vinte e quatro horas, é o que revela Sandra de Araújo Maia, graduada em Psicologia pela PUC-SP/FMU, especialista em Psicoterapia Psicanalítica.

Ficamos sabendo que Luciana Gimenez foi a rainha de bateria, já ouvimos falar em Preta Gil, e mal saem de cena os famosos reluzentes dos camarotes, trombamos com pares românticos do Big Brother em sites, jornais e revistas.

O jornalista Sergio Augusto, ao ver atores globais numa Bienal do Livro escreveu em Assim Rasteja a Humanidade, um dos textos reunidos no livro Penas do Ofício: “No antigo Egito, havia pragas terríveis, como ratos e gafanhotos; nós temos as celebridades televisivas. Convidadas, indistintamente, para tudo, até para eventos onde em princípio deveriam se sentir mais deslocadas do que um vegetariano numa churrascaria ou o papa num bacanal, não perdem uma boca-livre, são pragas onipresentes”.

A sociedade do espetáculo é a da visibilidade total. Em decorrência do vazio espiritual da sociedade contemporânea, coisas sem nenhuma relevância tomam um espaço enorme. O que é a fama? Na verdade, é a infâmia, ao tratar da “escalada da insignificância”, aponta a filósofa Olgária Matos, da Universidade de São Paulo, também se viu às voltas com esse gênero humano ao selecionar os ensaios que comporiam Discretas Esperanças.

As celebridades, como as entendemos hoje, surgiram no apogeu de Hollywood, nos Estados Unidos, quando alguns atores e atrizes do cinema passaram a se destacar nos filmes, e criaram uma “aura” independente. Até surgir a chamada cultura pop, havia, para além do heroísmo, as figuras ilustres, sempre ligadas a alguma atividade, era o grande político, o grande intelectual, o grande artista. Ainda se tinha a idéia do diferencial, cuja falta implicaria em um mundo incompleto.

A partir desta idéia se torna simples imaginar, portanto, o que seria da Terra sem Monique Evans, Adriane Galisteu e Kleber Bambam (ex-Big Brother), entre tantos. Estas pessoas que emergem por alguns segundos não permanecem, e o problema desta banalização é que tudo acaba se equivalendo, você não tem mais critério, diz Matos. A fama é como uma droga que causa euforia, bem-estar, instantaneidade de reconhecimento a tornar a pessoa viciada, acreditando que resolverá todos os problemas da vida dela. Esta condição a deixa com um poder a ponto de inibriá-la, em êxtase quase surreal. Relatos de pessoas próximas às celebridades instantâneas confirmam algumas sofrerem depressão e crise de abstinência pós-fama, em razão do efeito intoxicante.

Para a psicóloga Yara Malki, graduada em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), a fama não é uma busca solitária. O fato de se querer ser famoso significa buscar a condição de ‘importante’ para as demais pessoas, afinal de contas não existe famoso solitário. A busca contínua do reconhecimento e da admiração dos outros, considerando que vivemos em um meio social impulsionado pelas novas plataformas de tecnologia de comunicação, facilita este processo.

O desejo de sair do anonimato, mesmo que por razões nem tão dignas, explica a sujeição à cenas vergonhosas em reality shows como Big Brother ou, ainda mais, no extinto No Limite, onde se misturavam a busca pela fama com a recompensa material. O grande ideal do mundo contemporâneo é uma palavra de ordem vazia: ganhar dinheiro. As recém-celebridades almejam satisfação psicológica suficiente para serem admiradas, amadas, cortejadas, e incluídas no grupo seleto do glamour, ou seja, “a garantia de serem aceitas e consequentemente ter acesso à situações exclusivas”, acrescenta Sandra Maia.

Episódio ocorrido recentemente, envolvendo universitária hostilizada e ofendida por certo número de estudantes, por ter ido à faculdade usando minivestido, pode servir de exemplo de como ocorre a transformação de uma pessoa comum em uma celebridade. Antes Geisy Arruda frequentava regularmente o curso de Turismo em uma faculdade paulistana entre milhares de estudantes. O caso gerou repercussão nos meios de comunicação, causou a expulsão dela da instituição de ensino, e logo em seguida, a readmissão.

“O caso de Geisy Arruda mostra o quão importante é o papel das mídias eletrônicas nos dias de hoje e o que elas podem refletir no trabalho de outras grandes mídias. Até certo ponto, o vídeo seria muito bem visualizado na internet – e apenas isso. Mas como todos nós vimos, virou pauta jornalística em centenas de veículos, como o Estadão, a TV Globo e o popular Super Pop, da Rede TV, além dos veículos de projeção internacional, como é o caso do New York Times”, esclarece o jornalista Hans Misfeldt, colunista do site Observatório de Imprensa (www.observatóriodeimprensa.com.br) quanto as consequências do fato envolvendo a jovem estudante.

Os dividendos pessoais à Geizy, pós-acontecimento, foram bastante consideráveis e significativos: cogitada para participar da terceira edição do reality show A Fazenda, pela rede Record; modelo de lingerie; participação em diversos programas vespertinos de televisão; foco central de reportagem na CNN; nome veiculado nos principais meios de comunicação nacionais: rádio, televisão, impresso e internet; destaque em escola de samba do carnaval de São Paulo; presenteada com uma cirurgia plástica no valor de R$ 32.000,00 por simpatizantes; assediada por revistas masculinas; estrela do videoclipe "Regininha", da banda de pagode Inimigos da HP; capa da revista Plástica & Beleza – Edição Especial; mudou o cabelo, clareou os dentes, fez bronzeamento artificial, implantou silicone nos seios, e submeteu-se à lipoescultura; lançou a própria coleção de vestidos.


Sandra Maia aponta que a busca pela fama é incentivada pelo sistema social em que estamos inseridos no qual as pessoas valorizem os famosos, quando milhares votam no paredão do Big Brother, acessam o Youtube, compram a revista Caras em razão de elas serem aficcionadas e se sentirem, de alguma forma, inseridas no mundo encantado das celebridades.

No plano social não vejo muita saída. No plano individual a pessoa tem que buscar um caminho para a autoestima que não dependa tanto do reconhecimento alheio, porque fatalmente ela se ‘estoura’, complementa sobre eventual caminho para se evitar este comportamento.
Nem todas as emergentes ao estrelato possuem a estrutura psicológica compatível com a alteração de vida, considerando que uma ascensão vertiginosa como as dos Ronaldos, Maradonas, BBBs, mulheres-fruta etc tem se mostrado nociva à vida pessoal dessas pessoas, que após o período de ‘serventia’ são sumariamente descartadas. Por outro lado existem os Pelés, as Juliana Paes que conseguem capitalizar o momento de glória e o transforma em algo duradouro e consistente, aponta Malki.

Quem poderia estar devidamente estruturado para, repentinamente, suportar fama, reconhecimento, dinheiro, infindáveis bajuladores e tantas outras facilidades? Até pessoas equilibradas sofreriam abalo diante destas circunstâncias capazes de modificar por completo a vida de alguém. Bem verdade que aquelas mais frágeis emocionalmente, dependentes, imaturas têm maior dificuldade em administrar a nova situação.

As recomendações para se evitar o deslumbramento excessivo a ponto de se perder o controle da situação, são conhecidas, porém ignoradas muitas vezes pelas celebridades repentinas, apontam os especialistas, como a de integrar uma família estruturada, manter vínculos afetivos profundos com entes queridos, conviver com pessoas que possam orientar em primeiro momento, e dependendo da circunstância, observar o desajuste no inicio para corrigi-lo, fornecendo apoio em todo os momentos.

A busca constante pela fama é algo que se torna cada vez mais comum na nossa sociedade. Pessoas passando em frente às câmeras nuas, alta exposição de imagens, vídeos na internet, enfim, são inúmeras as formas utilizadas para se aparecer.

Esta obsessão pela fama em determinado ponto pode ser considerada uma patologia. Segundo a psicóloga do Centro Universitário de Maringá-PR, Edilaine Zamberlan Serra, representa uma forma de mania, “a pessoa se torna maníaca por alguma coisa, tenta obter de qualquer jeito”.
Isto faz com que as pessoas não consigam distinguir quando estão sendo realmente aplaudidas, ou quando o público está ali apenas para rir, ou tirar sarro. Edilaine diz que isso é comum em quem tem essas manias. O fato da pessoa ‘se achar’ demais faz com que ela queira sempre estar no centro das atenções.

A doença não pode ser pré-diagnosticada sem antes saber do passado da pessoa. Afirma que não é apenas por carência afetiva que essas pessoas tem necessidade de estar no centro das atenções. “É preciso saber do passado dela, se teve algum trauma ou não”, finaliza a psicologa.
O psicanalista Renato Mezan, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, professor titular da Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP acredita que o turbilhão de pessoas com obsessão pela fama que invadem as televisões reflete um mundo que supervaloriza a imagem, onde “todos querem ser admirados e a fama é uma forma vazia de conseguir atenção", conclui.


(por Marcelo Marson)

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