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terça-feira, 25 de maio de 2010

Visibilidade dentro do Esporte

Todos já ouviram falar de taekwondo, uma arte marcial de origem coreana que ensina a defesa pessoal e diversos tipos de ataques sem armas. Mas poucos já ouviram falar da festa de gala de taekwondo, ou até mesmo a miss taekwondo. Dentro de um esporte que parece tão comum e simples, existem muitas oportunidades de nascerem grandes estrelas que, apesar de pouco conhecidas pelo público em geral, têm seu próprio reconhecimento e incentivo dentro do esporte.
Exemplo dessa fama é a Stephanie Morales, uma menina que com apenas 17 anos é campeã nacional de taekwondo e representante oficial do país em competições internacionais. Ela lida todos os dias com a pressão de todos ao seu redor quando se trata de treinar e vencer. O reconhecimento através de suas conquistas são apenas conseqüência. Mas nem por isso ela leva uma vida perfeita.
Com grande exposição de sua imagem na mídia, Stephanie ainda tem de lidar com suas dificuldades para se expor ao público.
Quem defende e representa a imagem de Stephanie em suas dificuldades para com o público, é seu atual mestre Carlos A. Negrão, mais conhecido como mestre Negrão, dono de uma das maiores academias de taekwondo do Brasil, onde treinam os mais conhecidos campeões nacionais e seus respectivos técnicos.


Um grande talento estava prestes a ser revelado no dia seis de agosto de 2000, quando Stephanie Morales, com apenas sete anos, decidiu que iria sair do seu cursinho de ballet e ir para uma academia de taekwondo ao lado, onde só tinham meninos prontos para brigar e se defender. “Eu fazia ballet porque minha mãe queria, ela achava que era algo muito feminino e delicado e que seria bom pra mim. Eu também gostava de fazer, e fiquei triste quando um certo dia a escola fechou. Então eu decidi ir para uma academia de taekwondo, e logo na primeira aula eu me apaixonei. Percebi que era ali que eu realmente queria ficar”.
Quem iria adivinhar que, anos mais tarde, com muita dedicação e delicadeza aquela menina pequena e aparentemente sem expectativas, iria se tornar a campeã nacional e representar o país em campeonatos aleatórios no mundo todo? “desde pequena ia às competições para assistir e sempre que podia eu lutava, e depois que comecei, não parei mais. Fui de campeonatos regionais, brasileiros e hoje em dia internacionais”.
Pois não é que ela realmente conseguiu surpreender a todos.
Melhor atleta júnior feminina 2000 e 2001, e melhor atleta revelação em 2007 (alguns dos prêmios concedidos pela federação brasileira de taekwondo), hoje a atleta é mais que uma verdadeira campeã! Stephanie se tornou um ícone dentro do esporte! Hoje não há quem não tenha ouvido falar dessa atleta pelo menos uma vez ou desejou ser como ela.
A esportista ganhou fama e reconhecimento tão depressa que não foi difícil arrumar logo um patrocinador que se interessasse em investir ainda mais em seu talento. Seu primeiro patrocinador foi o Banco Cruzeiro do Sul, pouco antes dela vir a ser campeã nacional, o que lhe ajudou muito, pois só assim ela conseguiu viajar para o exterior e bancar seus equipamentos nada econômicos.
Quem vê dessa forma, acha que ela é a garota do esporte mais sortuda do país e que nada mais lhe falta. Mas a verdade não é bem essa. Graças a todas as suas vitórias nacionais e internacionais, sua imagem acaba sendo exposta muito mais do que ela gostaria. E a cobrança, junto com a pressão, acabam se tornando ainda maiores por conta disso.
Apesar disso, a pequena atleta ainda não se acostumou com essa fama repentina adquirida através de suas lutas. Considerando-se extremamente tímida, a ponto de não conseguir responder as entrevistas com naturalidade, ela não vê razão para tanto “estardalhaço”, como ela mesma diz. “Eu sou uma competidora, não uma estrela de cinema. Faço isso porque gosto de competir e me esforçar, não para as pessoas gostarem de mim ou pedirem meu autógrafo por aí”.
Ela prefere ser reconhecida exclusivamente pelo seu talento no tatame, . “As vezes as meninas mais novas do taekwondo pedem meu autógrafo ou querem sentar perto de mim e pedem dicas sobre as lutas. As mães dessas meninas pedem pra tirar foto comigo. Eu fico com vergonha porque sou tímida, mas já estou me acostumando com isso e aprendendo a gostar. Elas querem lutar como eu e isso sim, me deixa orgulhosa. Considero isso até como um incentivo a parte pra mim porque sei que eles admiram meu desempenho, o que significa que eu sou boa e sempre tenho que me esforçar pra melhorar.”.
Ela também critica as pessoas que veem o taekwondo como uma forma de obter fama ou de viajar de graça. “Não é pra isso que nós competidores nos esforçamos. Nosso esforço é pela vitória em si, e não por um reconhecimento que pode se perder logo em seguida. Eu não gosto quando vejo minha foto por aí em algum site ou revista que não esteja falando de taekwondo. Acho isso até ofensivo porque parece que só estou querendo aparecer”.
Stephanie é sincera consigo mesma a todo momento. A fama para si veio involuntária. E ela ainda está aprendendo a lidar e a gostar disso. Ela não nega que, desde o primeiro momento, na sua infância, já sonhava bem longe com campeonatos internacionais e prêmios valiosos. Graças ao seu esforço, ela obteve isso. Mas nunca pensando em fama sobre sua imagem, ou de se aproveitar disso. Suas ambições são extremamente profissionais e ela afirma: “As pessoas vão ouvir muito sobre mim, ainda.”.
É, essa menina vai longe.
Carlos A. Negrão (ou mestre Negrão, como é mais conhecido) é 5° dan da faixa-preta de taekwondo e dono de uma das maiores academia do Brasil, o centro de treinamento Baby Barioni, onde além da Stephanie, hoje treinam os maiores campeões do país. Campeão e técnico de campeões, está acostumado a lidar com a exposição de sua imagem na mídia e defende que Stephanie ainda irá se acostumar com isso, também. “Ela ainda está no começo. Se ela se acha cobrada e exposta hoje, ela vai ver realmente o que é cobrança e exposição quando se tornar uma campeã mundial. Eu acredito muito no potencial dessa menina, sei que ela consegue se defender sozinha em uma luta, então, nas dificuldades da vida, ela tira de letra. Essa menina tem um futuro brilhante e ela também sabe disso. Tudo o que vier, é conseqüência do esforço e suor dela”.
Outro exemplo de reconhecimento é o irmão mais velho da Stephanie, Tanderson Danilo.
Inspirado pela própria irmã, também começou a praticar taekwondo desde muito jovem. No entanto, desde o início, ele preferiu seguir um outro caminho. Enquanto sua irmã desde cedo se dedicou a horas intensas de treino para competições, ele queria mesmo é aprender a filosofia dessa arte marcial. Queria ouvir seu mestre e aprender tudo o que lhe tinha direito sobre os treinamentos.
Infelizmente, a academia onde ele treinava fechou as portas, fazendo com que ele deixasse de treinar e acompanhar a filosofia de que tanto gostava.
Mas isso não foi o suficiente para impedir sua grande vontade de continuar a praticar taekwondo. Ele então resolveu montar sua própria academia, a “Academia de taekwondo: irmãos Milesi”, na zona leste de São Paulo, onde ele pôde não só continuar a seguir sua filosofia como a passar isso adiante. E isso sim, diz ele, era o que ele sempre quis.
“Nunca quis que isso parasse em mim. Meu mestre me ensinou muitas coisas, não só sobre taekwondo, mas sobre a vida em si. Não achei que seria justo deixar isso parado ou guardado só pra mim. Por isso eu resolvi abrir uma academia própria e ensinar isso aos meus próprios alunos, Não há nada mais gratificante”. Sua academia tem cerca de dois anos e mais alunos vem surgindo a cada dia. Com treinos diários, ele tem a chance de passar seus ensinamentos e conhecer as ambições e sonhos de cada um.
Sendo irmão da campeã nacional, é comum que seus alunos acabem sendo inspirados por isso. “Eles admiram a minha irmã como se ela fosse realmente uma artista famosa. Quase idolatram ela, querem muito ser como ela. Acham que é fácil, que é só praticar um pouco e conseguem a mesma coisa”.
Tanderson sabe que não é assim. Sua irmã se esforçou e batalhou muito para conseguir chegar onde está, e ela nunca fez isso apenas para ser alguém famosa ou ser admirada dessa forma, e isso sim ele quer mostrar para seus alunos.
“Dentre os diversos alunos pode-se identificar diversas personalidades. Há aqueles que vem até mim e querem dicas, instruções mais detalhadas, indicações de vídeos, técnicas mais avançadas, etc. São esses os que com certeza tem em mente um dia se tornarem professores. Talvez abrir uma academia como eu, quando se formarem. Por outro lado há alunos que buscam ensinamentos de maneira mais restrita para lutar, técnicas, métodos, aparelhos, querem marcar aulas especificas para competições e, nesse caso, são esses os que vão buscar no esporte uma forma de serem reconhecidos. Nas ruas, na mídia, são esses os que querem mais especificamente serem famosos com o taekwondo”.
Tanderson incentiva a admiração que eles tem por sua irmã, e apoia isso, desde que seja algo verdadeiro e positivo para o esporte.
“Muitos deles, em especial os que almejam participar de competições veem a Stephanie como um ícone, pois pretendem conseguir bons resultados e posteriormente um patrocinador. Estes falam seriamente em se dedicar para participar de uma olimpíada, e isso me deixa muito orgulhoso e satisfeito, pois eu vejo que eles não querem algo banal como simplesmente a fama, querem realmente batalhar através de seus esforços. Não adiantaria, por exemplo, um deles querer abrir uma academia ou se tornar instrutor em algum outro lugar se ele não encarar isso como um objetivo de verdade, se não gostar realmente do que faz. Ensinar requer mais do que só ser faixa preta ou ser famoso, requer ter paciência, ser rígido nos momentos em que é preciso. Não se pode ensinar, agindo eternamente como um aluno”.
O professor Tanderson vê a fama de forma singular. Ele nunca desejou nem deseja a fama através de sua imagem, personalidade ou dinheiro. Ele apenas quer ser reconhecido por transmitir os ensinamentos do taekwondo. “É muito gratificante ser reconhecido na rua, pois, mesmo os alunos que por algum motivo precisarem interromperam seus treinamentos, ainda me vêem na rua e demonstram respeito, me chamando de Kyosanim (“professor”, em coreano). Os pais dos alunos me cumprimentam pois me reconhecem de alguma apresentação nas festas do bairro. Eu fico feliz pois sou reconhecido pelas coisas boas que eu fiz e sou recebido com um sorriso por isso. Isso sim, eu considero ser o reconhecimento positivo”.


(por Fernanda Sakami)

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